O
Super-Beterraba
de Emílio Carlos
Tudo
parecia tranqüilo naquela manhã de quinta-feira na cidade dos
Vegetais.
Seu
Cenoura cuidava de suas cenourinhas, enquanto a dona couve reclamava
do calor. Os tomates tomavam banho de sol e o Zé Espantalho
espantava alguns pardais que queriam comer sementes de rabanete que
acabavam de ser plantadas.
Dona
beterraba já ia preparar o lanche com muita água fresca e pediu ao
Beterraba para se sentar. Mas nesse momento a luz vermelha piscou e o
alarme tocou na casa dos Beterrabas.
Sem
perder tempo o Beterraba foi até a sala e apertou um botão na
fruteira. O que parecia uma estante de livros era na verdade a
entrada secreta da sala de controles-beterraba, cheia de TVs,
computadores e aparelhos por todos os lados.
Os
sensores dos Beterraba tinham detectado uma emergência. O já
conhecido Daniel, um menino humano que odiava legumes, tinha feito
mais uma das suas. Para não ter que comer as cenouras do almoço
jogou seu prato no chão e fez beicinho:
-
Eu não vou comer, mãe.
A
mãe do Daniel não sabia se catava os restos de comida e os cacos do
prato do chão ou se catava o Daniel. Na dúvida foi buscar a
vassoura.
-
Eu só quero salgadinho! – disse o Daniel fechando a cara.
Ao
ver aquela cena o Beterraba ficou estarrecido. Como pode alguém não
gostar de cenouras? Logo elas que tem uma cor tão bonita?
-
O que foi dessa vez? – perguntou Dona Beterraba.
-
O Daniel, mãe. – respondeu o Beterraba inconformado.
-
Ah... – suspirou Dona Beterraba – É sempre o Daniel.
Rapidamente
o Beterraba entrou no seu Reformatador Molecular. Fechou a porta de
vidro e apertou o botão vermelho. Imediatamente um raio energético
atingiu em cheio o Beterraba transformando-o no Super-Beterraba.
Vestido
com sua roupa de super-herói o Super-Beterraba saiu voando pela
porta enquanto a Dona Beterraba lhe acenava dando “tchau e boa
sorte”.
Mas
o Super-Beterraba ia precisar de muito mais do que sorte. Sabia que
só conversa não convenceria Daniel a comer as cenouras do almoço.
Entretanto o super-herói estava preparado – ou pelo menos achava
que estava.
Na
casa de Daniel a mãe tinha acabado de limpar o chão.
-
Eu vou fazer outro prato! E dessa vez você vai comer! – disse a
mãe do Daniel com a maior cara de brava deste mundo.
Mas
isso não convenceu o Daniel, que deu com os ombros assim que sua mãe
virou as costas e foi para a cozinha.
Enquanto
voava a uma velocidade super-sônica o Super-Beterraba assistia tudo
pelo seu super-relógio de pulso. Voando o mais rápido que seus
poderes permitiam o Super-Beterraba entrou pela janela e pousou na
mesa na frente de Daniel.
-
Oi – disse o Super-Beterraba.
-
Ai! – exclamou Daniel que se assustou. – Que... quem é você?
-
Eu sou o Super-Beterraba e vim bater um papinho com você.
Daniel
não podia acreditar nos seus olhos:
-
Você é um robô, um boneco ou o que?
-
Já disse: eu sou o super-Beterraba e vim falar com você.
Daniel
olhou em volta procurando cordões, mas não achou nada.
-
Onde estão os cordões de boneco?
-
Eu não sou um marionete. Sou um super-herói que veio aqui para
salva-lo.
-
Ah é: então destrói o prato de cenouras que a minha mãe vai
trazer daqui a pouco. – disse Daniel.
-
Mas é justamente o contrário, rapaz. Cenouras só fazem bem pra
saúde. É bom para o seu organismo. Você precisa comer legumes
todos os dias – explicou o Super-Beterraba.
Mas
Daniel continuava irredutível. E olhou para o herói com seu
sorrisinho sarcástico, dizendo:
-
Imaginem só. Eu ouvindo conselhos de um pepino com capa de herói.
-
É beterraba, entendeu! Beterraba!
-
Eu não vou comer e pronto!
Super-Beterraba
suspirou. Sabia que papo não adiantaria.
-
Sendo assim você não me deixa outra escolha – disse o herói.
-
O que? Você vai chamar seu amigos legumes agora pra me atacar? A
berinjela, o repolho e o abacate – ironizou o menino.
-
Abacate não é legume! – se irritou o herói.
-
Mas laranja é, não é? – disse o menino rindo da cara do herói.
-
Não!! – gritou o Super-Beterraba – É fruta!
-
E você é o que? Uma cebola? Rá, rá, rá!
Daniel
não se agüentava de tanto rir. Mas o Super-Beterraba estava
vermelho de raiva. Sacou de sua pistola de raios hipnóticos Z e
disparou. No mesmo instante o menino parou de rir e ficou totalmente
sem ação.
-
Você gosta de cenouras... – disse o Super-Beterraba.
-
Eu gosto de cenouras... – repetiu o menino.
-
Você gosta de cenouras e de todos os legumes...
-
Sim – concordou o menino.
-
Agora eu vou desligar a pistola e você não vai se lembrar que eu
estive aqui.
O
Super-Beterraba desligou a pistola e voou até a janela. Nesse mesmo
instante a mãe do Daniel chegou com o novo prato de comida.
-
Se você não comer tudo dessa vez você vai ficar de castigo,
mocinho.
Daniel,
que já se recobrava dos raios hipnóticos, ao ver o prato exclamou:
-
Cenoura! Que legal!
-
O que? – disse a mãe estranhando aquele comportamento e achando
que o Daniel ia aprontar alguma.
Mas
o menino pegou o garfo e comeu a cenoura com gosto.
-
Amanhã você me faz uma salada de legumes? – perguntou Daniel.
-
Claro filho. Claro – respondeu a mãe, contente da vida.
Da
janela o Super-Beterraba sorriu. Mais um menino bem alimentado. E
pensando assim voltou para casa com sua velocidade super-sônica pra
tomar aquela água fresca, até que outra emergência o chame.