de Emílio Carlos
Era uma vez um
menino chamado Léo, arteiro como ele só.
As duas coisas que o
Léo mais gostava na vida era pregar peças nos outros e passar o
fim-de-semana no sítio da sua avó, Dona Cotinha.
Lá no sítio o Léo
dava susto nas galinhas, que quebravam todos os ovos. Depois corria
atrás das patinhas, que acabavam voando para o sítio do vizinho. E
ainda espantava a vaca Malhada. Uma vez deu um susto tão grande na
vaca que durante 2 dias a vaca deu requeijão ao invés de leite.
A Dona Cotinha vivia
pegando no pé do Léo. “Não pode assustar os animais do sítio”,
dizia ela. E o Léo prometia que não ia fazer mais. Mas mal a avó
virava as costas, lá ia ele de novo.
Um dia quando Léo
chegou a Dona Cotinha disse assim:
- Hoje quero que
você tome muito cuidado. O Seu Arlindo, nosso vizinho, está abrindo
um poço atrás da casa. Não vá cair no buraco, hein?
Enquanto a vovó
fazia a mesma recomendação para a Maria Rita, irmã
do Léo, ele foi
correndo olhar o buraco do poço. Chegou bem na beiradinha do poço e
olhou lá dentro:
- Nossa! Que
buracão! – disse ele.
- Menino, saia já
daí! – exclamou a avó muito preocupada com o neto.
O dia foi passando e
o Léo só assustando a bicharada. Quando terminou de assustar todo
mundo, e não tinha mais nada pra fazer, teve uma idéia. Se escondeu
atrás de uma moita perto do buraco e gritou:
- Socorro! Eu caí
no buracão!
A avó, que estava
passando café na cozinha, saiu desesperada da casa e correu até o
buraco do poço:
- Léo! Léo! Cadê
você meu neto?
Maria Rita veio logo
atrás preocupada com o irmão:
- Tadê ocê, Léo?
As duas olhavam que
olhavam pra dentro do buraco e nada de ver o Léo. De repente ouviram
uma risadinha atrás da moita, que se transformou em gargalhada. O
Léo não se agüentava de tanto rir. E levantou atrás da moita
dizendo:
- Enganei vocês.
Enganei vocês.
A vovó ficou muito
brava com ele:
- Isso não se faz
menino!
O Léo continuava
rindo.
- Não faça mais
isso! Se um dia for verdade ninguém vai acreditar em você! –
previniu a vovó.
O dia foi passando e
o Léo ficou sem nada pra fazer de novo. Daí se escondeu atrás da
moita outra vez e disse:
- Socorro! Eu caí
dentro do buracão!
- Minha Nossa
Senhora! – disse a avó largando o almoço no fogão e correndo pra
socorrer o neto.
Outra vez o Léo
saiu de trás da moita rindo da cara da avó e da sua irmã:
- Enganei vocês!
Enganei vocês!
- Eu já disse pra
você: não faça mais isso, Léo! Se um dia for verdade ninguém vai
acreditar em você! – previniu a vovó.
- Mentir é coisa
feia. – disse a Maria Rita.
Depois do café da
tarde o Léo disse para a vovó que ia pegar umas frutas no pomar.
Tinha acabado de sair pela porta da cozinha quando a avó ouviu de
novo:
- Socorro! Eu caí
no buracão!
Dessa vez a avó não
saiu correndo não. E disse assim pra Maria Rita, que ainda estava
comendo bolachas:
- Agora eu não caio
mais não. Esse menino pensa que eu sou boba?
- Socorro! Eu caí
no buracão! – insistiu o Léo lá de fora.
- Eu não vou lá
não – disse a vovó. Pra ele dizer “enganei vocês” de novo?
Vamos minha netinha. Vamos ver um pouco de televisão.
As duas foram para a
parte da frente da casa e o Léo ficou lá fora sozinho. Na verdade
ele tinha se distraído quando saiu da cozinha e dessa vez tinha
mesmo caído no buracão. Estava sozinho e com medo:
- Socorro! Dessa vez
é verdade! Eu caí no buracão mesmo!
Mas a avó achou que
era mentira e não deu bola pra ele. Daí o Léo começou a chorar e
a falar baixinho consigo mesmo:
- A vovó tinha
razão. De tanto eu mentir agora ninguém mais acredita em mim.
Ele ainda tentou
chamar de novo:
- Vovó! Dessa vez é
verdade! Eu caí no buracão mesmo!
Mas a avó não
ouviu nada por causa do barulho da televisão.
Parecia que o Léo
ia ficar ali pra sempre. O tempo passava e ninguém aparecia. Daí
ele olhou pro céu e prometeu que nunca mais ia mentir nem pregar
peças em ninguém.
Nesse instante
chegou o Seu Arlindo com uma cavadeira pra continuar cavando o poço.
Ele foi chegando perto do buraco assim distraído e ouviu um
chorinho. “Ué!”, pensou ele. Olhou em volta e não viu nada. Daí
ouviu o chorinho outra vez. Um choro baixinho, abafado, de criança.
Seu Arlindo olhou no
buracão e viu o Léo lá dentro sentado, a cabeça apoiada nos
braços e nos joelhos, e chorando. Seu Arlindo saiu gritando:
- Acode! Acode aqui,
Dona Cotinha! O Léo caiu no buracão!
Foi um corre-corre
danado. Dona Cotinha ligou para os bombeiros que vieram resgatar o
Léo. Quando ele saiu nos braços do bombeiro Ademar a Dona Cotinha
correu para abraçar o neto:
- Meu neto! Graças
a Deus!
- Léo: eu te amo! –
disse Maria Rita.
E ali, abraçado com
a avó e a irmã, Léo prometeu de novo ao Papai do Céu que nunca
mais ia mentir.
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