de Emílio Carlos
Oi. Tudo bem?
Me chamam de Totó.
Mas o meu verdadeiro
nome é Tomeu Canino VL.
Canino por parte de
mãe e Vira-lata por parte de pai.
Moro do outro lado
do bairro.
Minha casa é azul e
tem um lindo jardim.
Tenho uma humana de
estimação chamada dona Marta.
Ela faz tudo que eu
quero. Me dá comida, sorvete e até osso se eu quiser. Quando eu
estou sujinho ela me dá banhinho e depois me faz bilu-bilu.
Eu deixo ela pensar
que eu sou dela, entende? Mas na verdade eu é que sou o chefe da
parada. Mando e não peço. Faço cara triste, alegre, abano o
rabinho e até dou uns latidos pra impressionar. E a dona Marta ali,
só fazendo o que eu gosto.
Eu também tenho um
gato de estimação. Você deve estar pensando o que um cachorro está
fazendo com um gato de estimação, não é? E dentro da sua própria
casa?
Bom, deixa eu
explicar: eu não queria, entende? Fui contra logo de cara. Mas a
dona Marta queria porque queria um gatinho. E eu só latindo e
explicando que não.
Mas ela me pediu com
tanto jeito, fez beicinho e tudo... E você sabe, né? Eu acabei
deixando.
O nome do gato é
Rogério Felino Gatuno. Mas a gente o chama de Roger.
O Roger é aquele
gato típico, que dorme metade do dia e na outra metade descansa.
Fica ali só no leitinho e na ração.
Enquanto isso nós,
os cachorros, os donos do pedaço, estamos ali tomando conta das
nossas casas e dos humanos. Porque tem humano mal que pode entrar na
casa da minha humana só pra roubar a minha comida. Vê bem se eu vou
deixar isso!?
A revelação vem
agora: todo cachorro fala bem o cachorrês. Mas com o passar dos anos
aprendemos a falar português também. Ué: precisamos saber a língua
que os nossos humanos de estimação falam.
Mas a gente não
fala com eles, a não ser em cachorrês. Ué, se eles quiserem falar
com a gente que aprendam a nossa língua... Eu não aprendi a deles?
Daí decidi escrever
minhas memórias em português pra vocês humanos poderem ler e
entender que nós é que somos seus donos. Como eu até já expliquei
ali em cima, né?
Vou contar pra vocês
todas as minhas aventuras. E se preparem que vai aparecer um monte de
gente, quero dizer, de bichos por aqui.
Olha só: tem o
Filão, um cachorro fila do outro lado da rua que só aparece pra
filar a minha bóia. Tem também o Pipi, um cachorro miudinho do fim
do quarteirão, medroso como ele só. Já adivinharam por que o nome?
É quando ele fica muito nervoso ele faz... chiiii, melhor não
falar.
Tem também o Nero,
um brutamontes que acha que é o dono da rua. Coitado! Mal sabe que
quando ele nasceu eu já mandava por aqui.
Tem a gatinha Fifi,
que é mais fresca que leite tirado na hora. E a galinha Cocó que
cria um humano gordo chamado Adamastor. Ela é entojada pra
caramba...
Tem a Mimi, uma
cachorrinha muito legal que mora aqui do lado. Somos amigos, somos
que nem osso e carne, assim bem juntos. Ela já me tirou de grandes
frias e eu sempre a ajudo também.
Tem o Babão, um
cachorro São Bernardo que baba pra caramba, tem um bom papo e é da
paz. Mas quando ele fica bravo, sai da frente compadre.
Pensa que acabou?
Tem o Quiqui, um hamster que vive na casa ao lado. Os gatos da rua
vivem querendo levar o Quiqui pra jantar. Quer dizer: pra ele ser o
jantar. Se liga, né?
Cara, isso aqui
parece um zoológico. Tem o papagaio Currupaco, a coruja Jacira e a
tartaruga Mimosa. Sei lá porque é que ela se chama assim. Mimosa é
nome de vaca.
E os humanos então?
Tem os sobrinhos da dona Marta – Vitor e Bruna – que sempre
aparecem aqui pra brincar. Mas eles brincam demais! Jogam pauzinho
pra eu pegar, querem brincar de cavalinho, de pega-pega, de
amarelinha, nossa! A pilha deles nunca acaba, e eu ali cansado da
Silva. Daí eu faço a minha brincadeira preferida: brinco de morto e
vou descansar.
Tem o Marquinhos, um
garoto sardento que mora na rua de trás cuja diversão é aprontar
todas com os bichos. E tem o Zé Malvado, o cara da carrocinha que
vive perseguindo animais. É, eu disse animais. Ele não pega só
cachorro não. Pega tudo que estiver pela frente. Outro dia mesmo
pegou até o papagaio. Daí a dona Gertrudes foi lá na prefeitura e
só faltou dar uns cascudos no Zé. Xingou o feio aos montes e ele
soltou o Currupaco. E a gente ali, só assistindo feliz da vida o Zé
se dar mal.
E tem, claro, a
minha doce e meiga Gisele, uma poodle que mora no outro quarteirão.
Eu e ela, quero dizer, ela e eu somos namorados faz um tempo. Só que
ela ainda não sabe, ta? Então não conta nada, não vai estragar o
nosso relacionamento. Senão não te conto mais nada.
Bem, eu gostaria de
ficar aqui falando e falando mas agora vai começar meu programa
favorito: Hora do Osso. Tem muito sorteio de ração e brinquedos
para cães. Eu me divirto com as cachorradas que eles fazem. Mas o
que eu mais gosto é de ver as cachorrinhas do programa. Bem, então
até mais.