de Emílio Carlos
Bruno gostava da
Clarinha. Tudo nela pra ele era lindo. Tinha um sorriso encantador,
um cabelo lindo, uma voz de anjo e os olhos da cor do amor.
Os dois estudavam na
mesma classe. E Bruno já gostava dela fazia tempo, mas não tinha
coragem de chegar.
Na hora do lanche os
dois lanchavam na mesma mesa do pátio da escola, ele numa ponta da
mesa e ela na outra. E ele olhava pra Clarinha, que olhava pra ele e
sorria. Ele sentia um negócio por dentro difícil de explicar. Até
comentou com seu amigo Léo, que sempre comia do lado dele:
- Léo, estou
sentindo um negócio por dentro que é difícil de explicar.
- É fome, disse
Léo metendo a boca no seu sanduíche.
- Que fome Léo!
Não é na barriga. Eu sinto um negócio estranho é no peito.
- Ah! Vai ver você
vai ficar com tosse.
Puxa, quando se
tratava de amor o Léo não entendia nada mesmo.
O ano ia passando e
a Clarinha ali, cada dia mais bonitinha. E o Bruno cada vez mais
apaixonado.
Teve um dia, na aula
de pintura, que ela falou com ele pedindo a tinta verde emprestada.
Ele ficou hipnotizado por aqueles olhos lindos que ela tinha, e sem
perceber começou a por o dedo na tinta verde e pintar a carteira
toda, enquanto falava com ela.
Num outro dia eles
estavam lanchando, a Clarinha lhe deu uma piscadinha, e ele muito
distraído deu uma mordida no dedo ao invés de morder o sanduíche.
Doeu e ele fez uma cara tão gozada que a Clarinha pensou que era
brincadeira dele e desatou a rir. O sorriso dela fez a dor dele até
passar.
Ele foi ficando cada
vez mais apaixonado. Até que tomou uma decisão: ia se declarar à
Clarinha. Dizer que gostava dela. Ele até achava que ela gostava
dele, mas precisava ter certeza. Então escreveu um bilhete um pouco
antes do recreio. O bilhete dizia assim:
Clarinha:
Você sente o mesmo
que eu?
Assinado: Bruno
Todo mundo ainda
estava fazendo a lição e não percebeu o que ele estava fazendo. A
professora estava sentada corrigindo provas lá na frente.
Mas como ele ia
entregar o bilhete pra Clarinha? A professora não deixava ninguém
sair do lugar. Daí perguntou pro Léo se ele tinha alguma idéia. E
o Léo disse:
- Fácil. Faz um
aviãozinho e manda pra ela.
Acontece que o Bruno
não era bom em fazer aviãozinho. Os que ele fazia ou não voavam ou
davam meia volta e caiam direto na sua cabeça. Daí o Léo disse:
- Deixa que eu faço.
O Léo fez um
aviãozinho com o bilhete e o Bruno jogou. Enquanto o aviãozinho
voava foi um suspense danado. Uma hora pareceu que ele ia cair na
mesa da professora. Depois deu uma volta e foi direto pra mesa da
menina mais feia da classe.
Mas aquele era o dia
de sorte de Bruno. E um vento entrou pela janela e desviou o
aviãozinho que caiu bem na mesa da Clarinha, que se surpreendeu. Ela
abriu o bilhete e leu em voz alta. A classe inteira parou pra prestar
a atenção. Até a professora.
¨Clarinha:
Você sente o que eu
sinto?
Assinado: Bruno¨
Daí a Clarinha
virou-se para trás e olhou para o Bruno. A classe toda também
olhou. E a professora também. E a Clarinha disse:
- Sinto sim,
Bruno.
Ele ficou tão feliz
que não sabia onde punha a cara de tão vermelha que ela ficou.
Ainda mais quando a classe ensaiou um êêêê bem alto. Daí a
Clarinha completou:
- To com
muita fome. Professora: ainda falta muito para o lanche?
Todo mundo riu
enquanto o Bruno escorregava pra baixo da sua carteira. E do alto da
vergonha que ele estava passando a única coisa que ele conseguiu
dizer, e baixinho embaixo da carteira, foi:
- Comilona.
Naquela mesma hora o
sinal do lanche tocou. A criançada gritou um êêêê, e foram todos
para o pátio tomar seu lanche. O Bruno não saiu da sala, tamanha
foi a vergonha que ele tinha passado. Resolveu tomar o lanche ali
mesmo, embaixo da carteira.
E já estava
terminando seu suco quando um aviãozinho de papel entrou voando pela
porta e foi parar embaixo da sua carteira. Bruno pegou o aviãozinho
assim como quem não quer nada. Pegou por pegar. Abriu o aviãozinho
e pode ler a mensagem:
¨Bruno:
Você é tão
bonitinho...
Beijos.
Clarinha¨
Tinha até um beijo
feito com marca de batom. E nessa hora o Bruno era o menino mais
feliz do mundo inteiro.