de Emílio Carlos
Todo dia no final da tarde a mãe do Alfredo dizia assim:
- Alfredo: hora do banho.
Na hora o Alfredo respondia:
- Primeiro o Julinho.
Julinho, que era o irmão de Alfredo, dizia na hora:
- Não primeiro o Alfredo.
E começava a discussão pra ver quem ia tomar banho primeiro. A mãe
precisava intervir todo dia e decidir quem ia primeiro. Nesse dia a
mãe mandou o Alfredo ir primeiro. E o Alfredo não gostou. Entrou no
banheiro com uma má vontade...
E foi tirando a roupa lentamente. Muito lentamente. Brincava com a
roupa, fazia caretas no espelho, dançava com a roupa na mão, de pé
no chão frio. E o banho que é bom nada. A mãe do Alfredo começou
a desconfiar que tinha algo errado. “Esse menino nem ligou o
chuveiro ainda...”, pensou ela.
- Alfredo: toma logo esse banho, meu filho. Está ficando frio e você
vai se resfriar – disse ela.
- Ta bom mãe – respondeu Alfredo lá de dentro do banheiro.
Alfredo ligou o chuveiro. Mas não entrou embaixo da água não.
Ficou fazendo dança da chuva dentro do banheiro. Depois foi ver como
seus dentes eram legais no espelho. Depois resolveu brincar de homem
das selvas no banheiro. Aquilo estava demorando muito e a mãe
resolveu ir ver o que estava acontecendo.
Quando abriu a porta do banheiro viu Alfredo lutando contra a água
do chuveiro:
- Tome isso ser do espaço: iáááá!
- O que é isso Alfredo?
Alfredo ficou branco! A mãe pegou-o na hora em que ele deu um golpe
de Karatê na água que caía do chuveiro. Fez aquela cara de bolacha
e ainda tentou se explicar:
- É que a água estava me provocando...
- Pare de brincar e tome logo seu banho, meu filho. Você está
desperdiçando água e energia elétrica, Alfredo. É o mesmo que
jogar dinheiro fora pelo ralo – explicou a mãe.
- Ta bom – disse o Alfredo assim com cara de picolé.
Foi só a mãe fechar a porta do banheiro e o Alfredo pensou:
- Dinheiro pelo ralo? Deve ter sido o terrível pirata perna-de-pau
que escondeu o dinheiro aqui! E no esgoto, que é o seu lugar.
E se ajoelhou no chão frio do banheiro para olhar dentro do ralo ver
se tinha ali algum tesouro escondido. Olhou e olhou e nada. Daí se
sentou no chão do banheiro e começou a remar em seu barco
imaginário. O barco entrou num temporal e para fazer as ondas
Alfredo pegou uma esponja, molhou na água e jogou por todo lado,
molhando a porta, as paredes, enfim todo o banheiro.
O Alfredo já estava gelado. Também tanto tempo sem roupa ali e fora
da água quente do chuveiro... Quando a esponja bateu na prateleira
de xampus um vidro de condicionador se espatifou no chão e o barulho
foi tão grande que a mãe abriu a porta. E viu o filho pelado
sentado naquele chão frio e ainda sem ter tomado banho.
Nessa hora a mãe perdeu a esportiva e disse:
- Agora você vai ver Alfredo!
O Alfredo até se encolheu de medo. Mas não adiantou nada.
- Desculpe mãe! – suplicou o menino.
- Venha aqui! – disse a mãe com aquela voz que não deixava
dúvidas que a coisa agora tinha ficado feia.
O Alfredo entrou debaixo d’agua e a mãe começou a esfrega-lo com
a esponja.
- Ô mãe! Eu não sou mais bebê! – reclamou ele.
- Mas parece – respondeu a mãe esfregando suas costas.
- Ô mãe... a... a... atchim! Alfredo começou a espirrar. Seu nariz
começou a arder.
A mãe mais que depressa enxugou Alfredo com a toalha. E pra ter
certeza que ele não ia demorar vestiu o Alfredo. De noite o Alfredo
espirrou várias vezes. No dia seguinte seu nariz estava escorrendo.
E á tarde ele já estava com tosse.
A mãe levou Alfredo ao médico. E lá o Dr. Teixeira deu aquele
sabão no Alfredo:
- Eu vou receitar esses remédios. Mas não é pra ficar peladão no
banheiro tomando frio ao invés de tomar banho, hein Alfredo?
Puxa, que furo! E o Alfredo ficou ali ouvindo o sermão do médico
com sua cara de bolacha. Depois disso o Alfredo mudou. Sempre entrava
no banheiro e tomava banho direitinho, sem demorar. Tomou os remédios
do médico direitinho e sarou. Na escola passou a dar conselhos:
- Demorar no banho é como jogar dinheiro fora pelo ralo.
E os amigos ficavam espantados:
- Óóóóóó´.