A FESTA DOS MONSTROS



de Emílio Carlos

Parecia uma noite comum, dessas que a gente tem todo dia. Bruno estava entediado. Não tinha muita coisa pra fazer, e das coisas que tinha pra fazer não estava a fim de fazer coisa nenhuma.
Foi até a janela olhar a rua. Noite calma de lua cheia que clareava tudo ao redor. Bruno até bocejou de tédio.
Foi aí que ouviu uma risada pavorosa. Assustou-se. Olhou para a TV, mas ela estava desligada. A mãe estava na cozinha e o pai no banheiro. Olhou para a rua e viu um vulto caminhando. Ouviu a risada de novo. O vulto foi se aproximando cada vez mais pela calçada. Era uma mulher meio gordinha com um chapéu esquisito na cabeça e carregando uma vassoura na mão.
Quando chegou no portão de Bruno ela deu outra risada. E ele pode ver tudo: ela era uma bruxa!
Bruno se escondeu embaixo da janela e pode ouvir outra risada. Ficou na dúvida se olhava ou não olhava, o coração batendo mais forte, querendo sair pela boca. Foi então que ele ouviu:
- E daí, vamos entrar agora?
- Não querida. Vamos esperar os outros chegarem.
Bruno não se conteve e olhou de novo. Agora eram duas bruxas, uma magra conversando com a gordinha.
“Outros? Que outros?”, pensou Bruno. Nem teve que esperar muito pela resposta. Logo apareceu um homem com uma cabeça grande cheio de cicatrizes e meio verde.
“Frankstein!” , pensou o Bruno apavorado. Tentou chamar a mãe, mas não conseguia falar. Tentou se arrastar até a cozinha, mas seus pés pareciam congelados.
- E daí, galera! Vocês estão simplesmente horrorosas!
Era um monstro com cara de peixe que dizia isso com seu macabro sorriso marítimo.
“O que mais falta?” – pensou Bruno. “Um E.T.?”
Mal acabou de pensar isso e apareceu um E.T. bem no seu portão com seu cérebro gosmento à mostra e escamas pelo corpo todo.
“Minha nossa! É melhor não pensar mais nada!” – pensou Bruno em pânico.
Logo vieram um homem-lagarto, uma aranha andando sobre duas pernas e, o pior de tudo, uma barata gigante. A conversa ficava animada lá fora, e o Bruno ficava desesperado aqui dentro.
- E aí? Quem aperta a campainha? – perguntou a barata.
- Espere mais um pouco que eles já vão sair – respondeu a Bruxa magra.
Então era isso: uma armadilha! Os monstros queriam pegar Bruno e seus pais! Mas para que?
- Eu estou com fome! – exclamou o homem-lagarto.
Era isso! Ele e toda a sua família iam virar jantar de monstros.
- Não se eu puder impedir! – disse Bruno baixinho para si mesmo, recuperando a voz.
Arranjou forças não se sabe onde, levantou cautelosamente e foi até a cozinha. Abriu a porta e disse:
- Mãe! Tem um monte de monstros aí na porta!
- Eu sei querido! – disse sua mãe sorrindo.
Mas não era mais sua mãe. Era na verdade um fantasma branco e pálido como a própria morte.
Bruno deu um grito de horror! E foi correndo escada acima até o banheiro.
- Pai! Pai! Acode pai! A mamãe virou fantasma!
- E o que é que tem? – disse o pai abrindo a porta do banheiro.
Mas não era mais seu pai, e sim um vampiro com dentes enormes e sangue escorrendo pela boca. Bruno deu mais um grito e saiu correndo:
- Socorro! Todo mundo virou monstro!
Desceu a escada e deu de encontro com a mãe:
- Agora é sua vez!
Nas mãos a mãe-fantasma de Bruno trazia uma roupa esfarrapada e uma faca cheia de sangue. E disse:
- Você vai ser o esfaqueado!
- Nãããoooo! – gritou Bruno apavorado.
Tentou subir a escada. Mas viu que o seu pai-vampiro estava descendo com um sorriso vampiresco. Pensou em fugir pela janela – mas os monstros estavam lá fora só esperando por isso.
Ficou correndo de um lado para o outro até que acabou encurralado pelo pai-vampiro e pela mãe-fantasma num canto da sala.
- É o meu fim! – disse ele.
Nessa hora a campainha tocou e o pai-vampiro foi abrir. Os monstros gritaram “Surpresa” e foram todos entrando.
- Onde é o jantar? – perguntou a bruxa gordinha.
- Gulosa – disse Bruno inconformado.
- Esperem. O Bruninho ainda não está pronto – explicou a mãe-fantasma.
- E nunca estarei! – disse ele.
Saiu correndo e foi dar de cara com o Frankstein, que levantou Bruno lá no alto:
- Vem com o titio, vem.
- Que titio o que!? – disse Bruno tentando se soltar.
- Agora é sua vez, humano! – disse o E.T.
Todos se juntaram em torno de Bruno e vestiram os farrapos nele. Depois jogaram um negócio parecido com sangue. E ele ainda pode ver quando vieram com a faca.
- Você é o esfaqueado do ano! – gritou a Bruxa magra.
Foi aí que o Bruno desmaiou.
Quando acordou pensou que tinha sido um sonho ruim. E disse:
- Mãe. Eu sonhei com monstros.
- Sério? – respondeu a mãe-fantasma.
Então ele percebeu que tudo era muito real. Todos os monstros continuavam ali. Ele estava vestido de farrapos e... tinha uma faca na cabeça.
- Ah não!!! O que vocês fizeram comigooooo?
Foi então que o E.T. pôs as mãos na cabeça e... tirou a cabeça. Bruno não podia nem olhar para aquela coisa nojenta. Um E.T. com cabeça já era asqueroso. Imagine um sem.
- Sou eu Bruno! O tio Oscar.
- Não! Você comeu meu tio Oscar, isso sim!
Um a um todos foram tirando suas máscaras e mostrando seus rostos. A mãe-fantasma tirou o lençol e virou mãe de novo. E acalmando Bruno perguntou:
- Você se esqueceu da festa de halloween?
Bruno tinha se esquecido. Daí se deu conta: a faca era de borracha e era de por na cabeça. Tinha comprado com a mãe ontem numa loja.
- Ufa! – disse Bruno respirando aliviado.
E foram todos pela rua jantar no clube pra depois dançar na festa.