de Emílio Carlos
Era uma vez uma turma de sapos que adorava brincar na lagoa.
Mal saia o sol e lá vinham os sapos Sapildo, Sapoldo, Sapuldo e Sapeca, pulando na água. Eles nadavam, mergulhavam, faziam acrobacias, pulavam um por cima do outro. Riam e se divertiam a valer.
- Como é bom mergulhaaaar! – dizia o sapo Sapildo pulando na água.
E todo mundo ria. Quer dizer, quase todo mundo. Porque na outra beira do lago um sapo ficava olhando a brincadeira meio triste. Era o sapo Sapão, que todo dia vinha ver os sapos brincarem.
O sapo Sapão ficava ali, com seus olhinhos tristes, olhando pro lago com água na boca. Ele também queria brincar. Mas ninguém deixava.
- Ei Sapildo – dizia o Sapão – me deixa brincar com vocês?
- Não – respondia o Sapoldo.
- Não mesmo! Você é muito grande! Se pular vai jogar toda água pra fora do lago! – dizia rindo Sapuldo.
E todos riam do pobre Sapão. Daí ele ficava ali, triste e abandonado, vendo a brincadeira e imaginando como seria legal entrar na água e ter amigos pra brincar.
Enquanto isso os sapos brincavam a valer. Um jogava água no outro, brincavam de jacaré, era a maior diversão.
E o Sapão ali, só olhando tudo isso, com aquela vontade de entrar...
Uma hora Sapão pensou e decidiu:
- Eu vou entrar na água de qualquer jeito.
Foi só o coitado pôr o pé na água que lá veio reclamação dos sapos:
- Ô Sapão! Saí daí!
- Saí gordo! Vai acabar com a água do lago!
- Sapo verde não entra aqui!
Na mesma hora o Sapão tirou o pé da água. E ficou muito triste:
- Eu gordo? Eu não sou gordo – sou grande. E verde? O que é que tem minha cor com isso?
Foi aí que o Sapão olhou pro lago e viu a diferença. Ele era verde, mas os outros sapos eram amarelos. Ele era grande, mas os outros sapos eram miúdos.
“E o que é que tem ser diferente” – pensou Sapão. “Minha cor e meu tamanho não mudam quem eu sou”.
Nessa hora o sapo Sapão chorou de tristeza. Só um pouquinho, porque não queria chorar na frente dos sapos. Mas duas lágrimas escorreram, uma de cada olho. E ele ficou ali, de cabeça baixa, triste como ele só.
Perto do lago se aproximava Juca – um menino conhecido por sua crueldade com os sapos. Ele caçava os sapos, depois os pendurava numa árvore e os deixava lá. Ou então prendia os sapos numa caixa fechada, sem furinhos para entrar o ar.
Juca se aproximava sorrateiramente para não ser visto. E os sapos continuavam brincando, sem notarem nada.
De repente Juca pisou num galho seco. O galho quebrou e fez o maior barulho. Os sapos se assustaram. E o Sapão avisou:
- É aquele menino malvado.
Foi um corre-corre. Os sapos tentaram fugir. Mas foram pelo lado errado e se atolaram na lama da beira do lago.
Juca se aproximava com sua caixa para pôr os sapos que caçava. E os sapos ali, sem conseguirem fugir da lama.
- Estou atolado até o pescoço no barro! – disse Sapildo.
- Eu também! – exclamou Sapeca.
Juca chegou na beira do lago e viu os sapos atolados na lama.
- Oba! – exclamou ele – Vai ser mais mole do que pensei!
Nessa hora Sapão pulou na água e nadou até o outro lado. Ficou no meio do caminho, entre Juca e os sapos atolados.
- Nossa! Que sapão! Eu nunca tinha visto um tão grande assim! – disse Juca espantado. – Sai sapo gordo.
Sapão ficou muito bravo. Segurou a respiração e estufou, estufou, estufou tanto que dobrou de tamanho.
Juca foi ficando branco, com medo. Daí Sapão fez a careta mais feia que ele conseguia fazer. E conseguiu assustar o menino, que saiu correndo, deixando a caixa para trás.
- Viva! – gritaram os sapos na lama.
Então Sapão – forte como ele só – tirou cada um dos sapos da lama do lago. E voltou nadando para o seu lugar, na outra beira do lago.
Nessa hora ele ouviu o Sapildo dizer:
- Ei Sapão: onde você vai?
- Vem brincar com a gente – disse Sapeca.
- Vocês têm certeza? – perguntou Sapão.
- Claro! Você é dos nossos – disse Sapildo.
Sapão todo feliz pulou na água molhando todo mundo. Os sapos riram muito e brincaram junto com Sapão a tarde toda. Eles tinham aprendido uma lição: Deus nos criou diferentes para que a gente se ajude e se complete. E dali para frente foram sempre amigos.
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