O DETETIVE ZINHO ENFRENTA O LOBISOMEM




de Emílio Carlos


Era uma noite estranha, com uma lua estranha e uma atmosfera estranha.
A temperatura estava estranha: apesar do inverno não fazia frio nem calor.
O Detetive Zinho estava em seu quarto e sabia que alguma coisa estranha ia acontecer naquela noite estranha. Seu senso de detetive lhe dizia isso.
E Zinho estava certo. Porque de repente se ouviu um uivo seguido de um grito pavoroso:
- Auuuuuuuuu!.. Aaaaaaiiiiiii!!!!!!!
Agora a noite estranha tinha se transformado numa noite pavorosa. O uivo e o grito angustiados ecoaram por todo o quintal e por toda casa. O que seria? O que estava acontecendo? Fosse o que fosse o famoso Detetive Zinho iria enfrentar essa noite tenebrosa e seus mistérios.
Novamente se ouviu o uivo seguido de um grito pavoroso:
- Auuuuuuuuu!.. Aaaaaaiiiiiii!!!!!!!
O Detetive Zinho pegou sua lupa e analisou a situação. Sem nem sair do quarto concluiu que o uivo e o grito eram de duas criaturas diferentes; ou de dois seres diferentes; ou de duas formas de vida diferentes.
Rapidamente o Detetive Zinho se dirigiu para a porta do seu quarto. E ouviu novamente o uivo pavoroso:
- Auuuuuuuuu!...
Mas dessa vez não ouviu o grito. O que teria acontecido? Será que o monstro uivante teria jantado sua vítima gritante?
Então o Detetive Zinho ouviu a mesma voz que antes gritava dizendo:
- Lobisooooomeeeeennn!!!! Aaaaaaaiiiiiii!!!!
Então era isso: o ataque do lobisomem! Aquilo só podia acontecer numa noite como aquela de lua cheia. Para enfrentar um lobisomem é preciso balas de prata. O Detetive Zinho vasculhou suas gavetas e tudo que encontrou foram balas de hortelã. E Zinho disse:
- Vai ter que servir.
Pegou as balas de hortelã, colocou no bolso e já ia descer a escada quando novamente ouviu o uivo e a voz?
- Auuuuuuuuu!...
- Lobisooooomeeeeennn!!!! Aaaaaaaiiiiiii!!!!
O Detetive Zinho reconheceu a voz: era sua irmã. Ele tinha que salvá-la. Aliás salvar as irmãs é o que os irmãos detetives fazem melhor.
Zinho pensou se não seria melhor levar sua maleta de detetives e seu arsenal de equipamentos para se defender. Mas não havia tempo porque nesse mesmo instante ele ouviu de novo:
- Auuuuuuuuu!...
- Lobisooooomeeeeennn!!!! Socorroooo!!!!!
A coisa tinha ficado pior porque agora a irmã já implorava por socorro. Não havia escolha. Não havia o que pensar. Um detetive tinha que fazer aquilo que um detetive tinha que fazer. Então Zinho começou a descer a escada.
- Auuuuuuuuu!...
- Lobisooooomeeeeennn!!!! Aaaaaaaiiiiiii!!!!
O uivo e o grito ficaram mais fortes. Mas o Detetive Zinho com seus ouvidos extremamente afiados de detetive percebeu sem ver que o uivo e o grito vinham de fora da casa.
Zinho respirou fundo uma vez, duas vezes, três vezes, e se encheu de coragem. Fez uma cara de “cuidado lobisomem” e desceu pela escada.
A porta da sala estava aberta. Parecia que ele se aproximava da cena mais terrível que já tinha visto até hoje: um ataque de lobisomem. E então Zinho pode ouvir bem alto o uivo e o grito:
- Auuuuuuuuu!...
- Lobisooooomeeeeennn!!!! Aaaaaaaiiiiiii!!!!
Ele não podia voltar atrás. Afinal sua irmã dependia dele. E os grandes detetives sempre enfrentam os perigos. E foi o que Zinho fez: corajosamente atravessou a porta da sala e então... viu a cena pavorosa.
Do lado de fora da casa a irmã dele petrificada de medo olhando na direção de uma moita de capim cidreira que a avó tinha plantado para fazer chá.
O uivo vinha da moita:
- Auuuuuuuuu!...
E o grito vinha da irmã:
- Lobisooooomeeeeennn!!!! Aaaaaaaiiiiiii!!!!
A criatura se mexia atrás da moita e a moita se mexia. A lua cheia brilhava e a atmosfera tinha ficado mais densa. Será que as balas de hortelã venceriam o lobisomem? E Zinho se arrependeu de não ter pego seus equipamentos de detetive. Mas se lembrou que um bom detetive sempre tem que usar aquilo que estiver à mão.
Assim deu uma rápida olhada em volta e viu: um saco de lixo que a mãe tinha colocado para fora e a mangueira de água do jardim. Para sua irmã eram somente um saco de lixo e uma mangueira. Mas para ele eram equipamentos para enfrentar o monstro.
- Auuuuuuuuu!!!!!!
- Lobi.. lobi... lobisoooooomeeen!!! - exclamou a irmã de Zinho com as pernas tremendo.
Rapidamente Zinho pegou o saco de lixo; deu um salto e pegou a mangueira; pegou as balas de hortelã e se sentiu confiante para enfrentar o lobisomem.
- Auuuuuuu!!!!!!
- Socorro!!! Socorro!!! - gritou a irmã, que saiu correndo, entrou na sala e... trancou a porta.
A situação era essa: Zinho estava do lado de fora da casa na frente de um lobisomem, enquanto lá dentro sua irmã chorava de medo sentada no chão.
Então era ele ou o lobisomem. Mas não podia ser o lobisomem – então seria ele. O grande Detetive Zinho venceria. E com essa certeza Zinho respirou fundo e disse assim:
- Muito bem lobisomem: agora é só eu e você. Pode vir.
A moita se mexeu de novo assustadoramente. O uivo ficou mais forte:
- Auuuuuuuu!!!!!
Lá dentro a irmã de Zinho olhou no cantinho da janela e disse:
- Corre Zinho! Corre!
Mas ele não correria. Enfrentaria o lobisomem como quem enfrenta uma salada de tomate com cebola.
No meio da moita agora se podia ver os olhos brilhantes da criatura. E Zinho armado do saco de lixo, da mangueira e das balas de hortelã foi ousado e deu um passo à frente.
A moita se mexeu como se a criatura também desse um passo à frente.
Zinho deu outro passo e a moita se mexeu de novo.
- Coitado do Zinho!!!!! O lobisomem vai pegá-lo!!! - gritou a irmã de dentro da casa.
Zinho respirou bem fundo e disse de uma vez só:
- Vem, então! Vem!
E a criatura saiu da moita. Não havia dúvidas que era um ser canino. Aliás parecia um cachorro. E reparando bem parecia o Átila, o cachorro da vizinha, que tinha escapado da corrente, se perdido, e sem saber voltar para casa uivava triste pedindo para sua dona vir buscá-lo.
O Detetive Zinho se aproximou do cachorro com uma bala de hortelã na mão. Foi o suficiente para o Átila lamber sua mão, comer a bala de hortelã e dar uma lambida na mão de Zinho querendo mais.
Mais um caso resolvido pelo famoso Detetive Zinho. Agora só falta devolver o cachorro para a vizinha. Isso depois que a irmã dele parar de abraçar o cachorro...

 (Fale com o Autor - emiliocarlos@yahoo.com.br)